segunda-feira, 19 de setembro de 2011

...isso foi no começo da travessia.



(...isso foi no começo da travessia.)

Era o meu dia de consulta no neurologista, o hospital imenso - atendimento pelo SUS. Primeiro passamos por uma sala de tamanho normal (porque não achei-a diferente...). Aguardei mais ou menos meia hora e meu nome foi chamado para outra sala maior. Ao entrar, me espantei com o tamanho da sala, quantas pessoas caberíam ali? 150, 200? As pessoas estavam sentadas numa metade e a parte para o fundo vazia. Fiquei em minha cadeira na frente, ao lado da mesa que atendia. Gostei daquela posição, eu poderia ver todos os rostos, acompanhar a movimentação. Pacientes e acompanhantes entravam e eu os observava, até que num dado momento aquilo começou a me incomodar. A sala tornou-se repleta de gente, parecendo um hospital de campanha! Éram muitas pessoas deficientes - e todas no mesmo lugar! A maioria doente; a maioria crianças! Comecei a me sentir sufocada. Naquele momento, a cena pra mim tornou-se insuportável. Veio aquele sentimento de comigo tudo bem, sou adulta e posso aguentar, mas eles são tão pequenos! Abaixei a cabeça e apoiei o cotovelo no braço da cadeira, coloquei a mão fechada num lado do rosto, simulando que estaria descansando. Então apertei os olhos e chorei. Chorei quieta e discretamente, sem emitir nenhum som, abafei ao máximo para não ser notada. Meu coração doía. Pensei comigo, que aquelas pessoas estavam no meu planeta, mas eu nunca notara! Naquele dia, saí dali profundamente triste pelas crianças e adolescentes que vi. Imaginando quantos haveríam, que não estavam lá! A minha ficha caíra desde então! Tinhamos todos muitas coisas em comum!...porém coisas tremendamente incomuns!

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